sábado, 27 de agosto de 2011

Do outro lado da rua

Não me olhe pelo outro lado da rua...
Quando me vê, não me vê.
O que você  vê são suas próprias convicções
cruas e duras da vida.

Não me olhe pelo outro lado da rua...
Não me olhe com esses olhos...  
Olhos que julgam, que acusam, que condenam...

Não me olhe pelo outro lado da rua, 
não me pergunte de outro lado da rua.
As vezes é melhor ser sozinho no mundo,
já que você e o mundo,
já tem todas as razões e respostas...

Não me olhe do outro lado da sua rua,
neste comboio do tempo, chamado solidão...

Autor: Reinaldo da Silva dos Santos
Em 27/08/2011



Alvaro Campos
Lisbon Revisited
(1923)

NÃO: Não quero nada.  
Já disse que não quero nada. 


Não me venham com conclusões!  
A única conclusão é morrer. 



Não me tragam estéticas!  
Não me falem em moral! 



Tirem-me daqui a metafísica!  
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas  
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —  
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 



Que mal fiz eu aos deuses todos? 


Se têm a verdade, guardem-na! 


Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.  
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.  
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 



Não me macem, por amor de Deus! 


Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?  
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?  
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.  
Assim, como sou, tenham paciência!  
Vão para o diabo sem mim,  
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!  
Para que havemos de ir juntos? 



Não me peguem no braço!  
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.   
Já disse que sou sozinho!  
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 



Ó céu azul — o mesmo da minha infância —  
Eterna verdade vazia e perfeita!   
Ó macio Tejo ancestral e mudo,  
Pequena verdade onde o céu se reflete!  
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!  
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 



Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo...  
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Um comentário:

  1. QUE,profundidade,muitas vezes á solidâo é,uma bençâo.gostei do contraste entre esta estrada sem fim, nublada, carregada e á rosa amarela.juracy.

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