segunda-feira, 23 de julho de 2012

À margem de nós mesmos

  “Há várias maneiras sérias de não dizer nada./ Mas só a poesia é verdadeira.” 
                                                                                                Manoel de Barros

O final do texto abaixo que localizei em uma leitura na internet me fez refletir sobre este novo projeto que irá compor o Blog "Projeto Recomeçar", também me faz pensar muito sobre os caminhos daquele poeta, homem de sentimentos, conflitos , feito de carne e osso, que no peito bate um coração e não uma pedra. Este que na eminência dos caminhos da vida, se vê na eterna confrontação de desistir, não dos seus sonhos, mais de algo a mais; da sua própria pessoa, sua essência... E assim refletimos.
Este o poeta que sempre teve medo de lutar pelos seus sonhos, que arrancado das metrópoles ainda criança, conheceu a vida dura, mais digna, da cidade pequena do interior, este poeta que aprendeu a sonhar chorando, que viu todas as alegrias e sonhos de família perfeita desmoronarem, que caiu, que se ergueu, engolindo o choro e a dor da ausências... Mas que jamais perdeu a esperança de se tornar um dia um homem de reconhecimento e respeito...Não pelo dinheiro e poder, mais pela dignidade humana e por alguma forma de ter ajudado a mudar o mundo... 
Porém falar da vida deste poeta em simples linhas, seria ocultar aquilo que sempre ocultamos na vida, o olhar e os segredos do coração(terra que ninguém pisa), ai voltamos ao início que ele que sempre teve medo de arriscar. Arrisca, vai, se entrega, cai, se levanta, se confronta, se isola, se reinventa... Perde sua maior razão de viver. Luta novamente... Mas não se acha, e ele poeta dos sonhos objetivos se vê de novo a voltar com aquela incertezas dos sonhos chorados e não concretizados, da falsa ideia de "felicidade", da falsa realização, da boa e confortável zona de conforto, sem sonhos, sem realizações... 
Ai percebemos que o mundo é moderno, evoluído demais para sonhadores, aonde o arriscar é dar passos para a utopia de sonhos... E ao fim este poeta a cada dia percebe que a verdadeira "felicidade" no mundo de hoje é a que não respeita as escolhas dos outros, mas aquela que sempre colocará a necessidades do próximo em primeiro lugar, em segundo lugar, em terceiro lugar. Assim concluo estas palavras que poderiam ser também as palavras do poeta:
Algumas pessoas só precisam que você sonhe teus sonhos e acreditem nelas, mesmo que tudo pareça impossível, caso contrário, já morrerão mesmo estando vivas. Existem muitas pessoas  que aprenderam a sorrir com os dentes e não com a alma e o coração...

Reinaldo da Silva dos Santos
Belo Horizonte, 23/07/2012


 "Para quem tem medo, e a nada se atreve, tudo é ousado e perigoso. É o medo que esteriliza nossos abraços e cancela nossos afetos; que proíbe nossos beijos e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Esse medo que se enraíza no coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro, como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza. O medo, já dizia Mira Y Lopes, é o grande gigante da alma, é a mais forte e mais atávica das nossas emoções. Somos educados para o medo, para o não-ousar e, no entanto, os grandes saltos que demos, no tempo e no espaço, na ciência e na arte, na vida e no amor, foram transgressões, e somente a coragem lúdica pode trazer o novo, e a paisagem vasta que se descortina além dos muros que erguemos dentro e fora de nós mesmos. E se Cristo não tivesse ousado saber-se o Messias Prometido? E se Galileu Galilei tivesse se acovardado, diante das evidências que hoje aceitamos naturalmente? E se Freud tivesse se acovardado diante das profundezas do inconsciente? E se Picasso não tivesse se atrevido a distorcer as formas e a olhar como quem tivesse mil olhos? ”A mente apavora o que não é mesmo velho”, canta o poeta, expressando o choque do novo, o estranhamento do desconhecido. Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." "   
Fernando Teixeira de Andrade


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Considerações sobre o passado e o presente

                                                      "A vida, assim como a arte, é feita de acaso e necessidade".
                                                                                                                                                      Ferreira Gullar

Não sei se necessito de me expressar por necessidade, não sei se minha vida é feitas de acasos...
A partir dos próximos dias dedicarei este espaço a publicar poemas que escrevi há um passado recente, intitulada a início como uma série de "Enigmas da Solidão". 
É isto, voltar ao passado e o falar no presente, aonde sonhos existiam e as pessoas eram reais, e não mensagens e nem simples números de celulares, e-mail e redes sociais.
E antes que minhas próprias palavras me traiam, cito esta frase que há muitos anos vi exposto em uma parede de uma residência e aqui segue parafraseada "Se um dia eu não sorrir para você, não fique triste, pois pode ser nesse dia que eu precise de seu sorriso.".
Como diria um trecho na canção interpretada por Nana Caymmi "Batidas na porta de frente/ É  o tempo". O tempo, que sempre vem me lembrar, que a vida por mais que seja continua em sua concepções e realizações pessoais, financeira e amorosas ela nunca deixará de ser feitas de momentos... Momentos em que havia alguma importância, em que eu era alguém para você...
Hoje não entendo porque choraríamos no túmulo se em vida muitas vezes esquecemos que as pessoas existem... Daí a importância que hoje exista momentos.
Talvez por isto da importância e minha paixão pelo passado...
Lá pelo menos eu "existia" para você(s)...

Reinaldo da Silva dos Santos
Belo Horizonte, 20 de julho de 2012.



terça-feira, 17 de julho de 2012

360 dias

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."
         Poema Emergência de Mário Quintana

360 dias

30  dias de silêncio
30 dias sem palavras
a praticamente um ano sem uma palavra verdadeira
que não mostrasse sua simples formalidade...

Hoje penso em poemas que foram escritos e jamais publicados
palavras mortas em papeis guardados em canto de um quarto
assim como meus sentimentos, frios de paixão
sedentos de vida, assim como no poema "Emergência" de Mário Quintana.
Eu preciso respirar...
Eu preciso me recuperar,
me achar,
não perder...

Seria a última chance?
dentre tantas outras na minha vida,
ou não existirá mais uma chance...?

A partir de amanhã
reviro minhas gavetas,
resgato aquele poeta dos sonhos que nunca fui.
Quando eu era um sonhador...
Quando as palavras  não eram fugas
e representavam minhas certezas e rebeldias
de adolescente, de jovem...

Na maturidade o poeta se isolou...
O homem se calou,
a revolta silêncio,
das brigas solidão...

Voltar as palavras do passado
enfrentar as realidades do momento.
Amores, paixões, perdas...
Para mim Enigmas...
Hoje diante dos meus amigos, colegas, família...
Solidão, isolamento, silêncio...

Conseguem ouvir a minha voz,
vêm meu sorriso...
Para todos suas perdas foram perdas que doeram,
para mim apenas fatos do destino...
Meu coração... Meus sentimentos... Meu olhar...
Não enxergam mais.

Amanhã volto ao passado
a um projeto adormecido.
Porque falar do presente,
do agora para você não adianta,
Tudo viciado, tudo dito, tudo previsível...

Será?

Coração, Sentimentos, Olhar...

A partir de ontem, de hoje e de amanhã. Não são mais que...

Enigmas da Solidão...

Reinaldo da Silva dos Santos 
Belo Horizonte, 17 de Julho de 2012