Neste ano tive a oportunidade de criar este blog, na intenção de que minhas palavras pudessem de alguma forma levar as pessoas as reflexões.
Recebi de forma direta e "indireta" muitas palavras amigas de força e muitas "outras palavras" de pessoas que levaram tudo para o lado pessoal, que não entenderam o significado das palavras que eu havia escrito...
Como se eu fosse o dono das palavras.
A cada dia tenho mais certeza que não sou o dono das palavras.
Percebo o quanto tem muitas pessoas que não dão valor a elas, o seu poder, e o que os outros nos dizem.
Portanto minhas lacunas(espaços de tempos em que deixo de postar poemas e textos neste blog, poemas que não foram publicados, que eu fiz a mais de 15 anos, que só esperam ser corroídos pelo tempo e pelas traças, guardados na gaveta de meu quarto, que também representa esta lacuna, esta minha fuga do mundo, nos momentos de profunda tristeza, mágoa e angústia).
Esta lacuna? São ausência das minhas palavras.
Ausência de palavra, e pensar que Clarice Lispector disse certa vez que:
" A palavra é meu domínio sobre mundo".
Este semestre tive contato com este poema do Poeta Português Mário Cesariny, no dia confesso a vocês que minha alma e meus olhos se encheram de lágrimas e eu o defini nestas palavras "como um dos maiores poemas que eu li e ouvi em minha vida". Porque? Não achei palavras para difenilo...Porque??? Não sei...
"Não! Eu sou o que você vê? Afinal como o mundo me vê?"
R.S.S.
You are welcome to elsinore
"Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar"
Mário Cesariny (1923- 2006)
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